quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Aceitar o nunca. E o fim.

É difícil aceitar o nunca. É difícil aceitar que o que a gente deseja nunca se poderá ter. Porque geralmente o que se deseja é o impossível. O que se deseja é ter mais do que se tem. O que se deseja é saber mais do que lhe é permitido. O que se deseja é andar na rua de mãos dadas no fim da tarde...
É feia aos ouvidos a palavra: nunca. E aceitar o nunca envolve um monte de artimanhas psicológicas. Criam-se teses, padrões e religiões para que se possa suportar o nunca.
É igual com o fim. É difícil aceitar o fim. Principalmente de coisas que nos fazem bem. É difícil saber que o sorvete está acabando num dia de calor. É difícil aceitar que a vida vai se esvair daquele cachorro que já está tão velho que mal late. Assim como deve ser difícil para alguns saber que há um fim para si próprio. E para outros esse fim nunca chega, o que te leva novamente a ter que aceitar o nunca.
Deve ser por isso que inventou-se Deus: como um antônimo para o nunca. Ou seria uma extensão do nunca? Pois diz-se que Deus sempre existiu e sempre existirá, mas ao mesmo tempo ele nunca deixará de existir. Inclusive deu-se a ele o poder sobre o fim com o que ele nos retorna dizendo que o fim de tudo estava em seus planos. Nossos planos.
Nossos medos maquiados. Nossas angústias escondidas por uma satisfação de que a responsabilidade já não é mais nossa.
Dói ter que aceitar o fim de algo que se achou que daria certo mas que em verdade nunca acontecerá.
Mantra matinal. Ao acordar dizer a si mesmo: "Aceitar o nunca". Mas não aceito. Ao acordar dizer a si mesmo: "Aceitar o fim". Aceito. Mas o verdadeiro fim nunca chega...