domingo, 12 de outubro de 2014

Preenchimento

O que me falta aos olhos
Eu completo com letras.
O que me falta aos ouvidos
Eu completo com notas.
Ao coração: notas e letras.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Top 5 Discos de 2013

Minha lista anual de discos (ou álbuns) que eu mais gostei no ano anterior está (bem) atrasada.
2013 foi o ano da volta dos que não foram: David Bowie, Black Sabbath, Jimi Hendrix (esse foi) inédito e até mesmo Yeah Yeah Yeahs.
Mas também teve algumas novidades interessantes: Lorde e Haim.

Vamos aos 5 que mais me arrepiaram neste ano.

5° lugar: Regions Of Light And Sound Of God do Jim James.


Com uma voz fanha porém afinada, esse disco de estréia solo do vocalista e frontman da banda My Morning Jacket não chega a ser tão diferente do que ele faz na banda mas mesmo assim surpreende pela delicadeza e profundidade sonora das canções. A belíssima A New Life foi a minha faixa preferida do ano mesmo com uma letra tão otimista e um final até dançante.

4° lugar: Random Access Memories do Daft Punk.


Este está provavelmente em mais de 90% das listas do ano, e com razão. É um disco que tem tudo: desde do pop pra tocar na rádio e nas baladas de Get Lucky  e Lose Yourself to Dance até experimentações eletrônicas como Motherboard. A "talking song" Giorgio By Mororder é um caso de genialidade a parte: um crescendo de música eletrônica com cara de anos 70 que vai ficando cada vez mais moderna até chegar no clímax de um solo espetacular de bateria. esse disco vai tocar nas pistas por muitos anos, junto com o Discovery.

3° lugar: O Mais Feliz Da Vida d'A Banda Mais Bonita da Cidade



O segundo disco da banda que ficou conhecida por um vídeo na internet mostra que eles não serão apenas uma modinha virtual. É um trabalho conceitual e pode-se dizer que é o primeiro álbum realmente pensado da banda, já que o primeiro disco era mais como uma coletânea das músicas que eles tinham até aquele momento.
As três primeiras faixas (O Mais Feliz da Vida, Potinhos e Que Isso Fique Entre Nós) formam uma suíte sem pausa com uma fluência deliciosa. A produção do disco é impecável. Cheio de sons, timbres e detalhes que fazem o disco manter um clima constante sem ser entediante.
É um álbum para se ouvir do começo ao fim, sem interrupções.

2° lugar: Antes Que Tu Conte Outra do Apanhador Só.



Antes dos protestos que aconteceram no Brasil em 2013, esse disco já mostrou que a panela de pressão estava a ponto de estourar. Canções como Mordido, Despirocar e a belíssima Reinação expressam o sentimento com as atuais condições da nossa sociedade.
Este é um disco mais político do que o anterior que era mais romântico e também mais filosófico e reflexivo. Tem frases do tipo "Toda carne dura menos que qualquer madeira", que trazem a tona boas questões existenciais.

1° lugar: Então Morramos do Simonami.



A coisa mais lindamente triste que eu escutei em 2013. Segundo álgum da banda independente de Curitiba, produzido pelo Vinicius Nisi (que é tecladista d'A banda Mais Bonita da Cidade, e também produziu O Mais Feliz Da Vida). Foi todo gravado "Ao Vivo", o que dá um clima ainda mais forte para as canções.
Os arranjos são delicados e as vozes afinadíssimas e totalmente harmonizadas. É notável a coragem de expor sentimentos tão íntimos nas letras.

Faixa a faixa:


01 - Soledad
O que mais impressiona nessa faixa é a comunhão entre as duas vozes principais. É um canto com alma que emociona a cada sílaba. A instrumentação é toda acústica e a bela equalização faz tudo soar muito vivo.

02 - Janela
É a primeira mostra concreta do que o título do álbum convida. Começa doce e lenta e explode em um êxtase de desespero. A parte percussiva remete a Beirut.

03 - Irmã
A música é tão doce que quase faz a gente esquecer dos erros de emprego das sílabas tônicas na melodia.
Letra totalmente íntima. Interpretação pura.

04 - Coisas da Escolinha
A primeira vez que se tem vontade de morrer na vida é quando se sofre o bullying na escola quando criança e claro que este tema não poderia faltar num disco como esse. Tristeza cantada em forma de cantiga de roda. Doce e doída demais. minha preferia do disco.

05 - Fantasma
Coisas de quando não se tem amigos reais durante a infância, ou quando mesmo com várias crianças ao redor não se sente acompanhado quando pequeno. E o questionamento por não se sentir parte do resto mundo.

06 - Sin Premura
Uma leve canção. Destaque novamente pro arranjo vocal doce.

07 - Nós-Um
Música de amor. Violão lindo.

08 - Ampulheta
Letra agonizante. O arranjo também capta essa aura com a guitarra e voz com timbres lo-fi. As vocalizações dão um clima fantasmagórico.

09 - Pedido ao Pássaro
Letra sobre abandono bem dolorida. Interpretação emocionante. O arranjo vai num crescendo que traz uma emoção difícil de segurar. Ótima faixa para finalizar um ótimo disco.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Enciclopédia.

Para ler ouvindo:

Eu sempre gostei de enciclopédias.

Quando eu era menino ganhei, da minha madrinha de batismo católico, uma grande. Eram doze volumes em capa dura vermelha. E cada volume, eu me lembro, era enorme e pesado, não sei se apenas diante da minha estatura pequena e magra de então.
Ao contrário de outras enciclopédias que eu vi depois, esta não era ordenada por ordem alfabética de verbetes. Continha artigos aleatórios sobre os mais diversos assuntos, que podiam ser localizados através de um grande índice incluído no último volume.

Eu tinha cerca de seis ou sete anos e estava começando a aprender a ler e descobri a existência de enciclopédias numa revista da Turma da Mônica. Sei que eles faziam algum tipo de referência que se você lesse uma dessas você seria uma pessoa inteligente. A partir daí comentei com meus pais e com alguns tios que meu “sonho” era ter uma, até o dia em que ganhei a coleção citada anteriormente.
Decidi lê-la por inteiro. Do primeiro ao último volume. E assim comecei minha jornada de conhecimento.
Lógico, muita coisa que eu lia não fazia o menor sentido pra mim. Confesso que pulava artigos sobre química e matemática avançada, afinal naquela idade eu mal resolvia equações com as quatro operações básicas.

Meus artigos preferidos eram os de biologia, onde descobri bichos que nunca imaginei que existissem como os seres abissais dos oceanos ou aves totalmente coloridas que viviam em outras partes do mundo.
Mundo este que foi ficando cada vez mais limitado com os artigos de geografia que eu também gostava muito. Mas essa limitação se desfazia nos artigos de astronomia que levavam minha imaginação pra muito além da rua do pequeno bairro em que eu vivia. Enquanto o mundo diminuía, o universo crescia. Cresceu junto meu contestamento religioso.
Descobri línguas, países, raças, histórias, artes. Tive a companhia que me faltava entre os outros da minha idade. Pois as enciclopédias não te ensinam a se relacionar com as pessoas.

Nem a se defender delas.

domingo, 18 de maio de 2014

Descoberta.

Descubra-me.
E me deixa te descobrir.
Descobre-me.
Tira as minhas vestes,
Tira-me o lençol.

Descobre a minha alma
Do manto pesado do rancor.
Descubra quem eu sou
Mas não esqueça de me contar.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Aceitar o nunca. E o fim.

É difícil aceitar o nunca. É difícil aceitar que o que a gente deseja nunca se poderá ter. Porque geralmente o que se deseja é o impossível. O que se deseja é ter mais do que se tem. O que se deseja é saber mais do que lhe é permitido. O que se deseja é andar na rua de mãos dadas no fim da tarde...
É feia aos ouvidos a palavra: nunca. E aceitar o nunca envolve um monte de artimanhas psicológicas. Criam-se teses, padrões e religiões para que se possa suportar o nunca.
É igual com o fim. É difícil aceitar o fim. Principalmente de coisas que nos fazem bem. É difícil saber que o sorvete está acabando num dia de calor. É difícil aceitar que a vida vai se esvair daquele cachorro que já está tão velho que mal late. Assim como deve ser difícil para alguns saber que há um fim para si próprio. E para outros esse fim nunca chega, o que te leva novamente a ter que aceitar o nunca.
Deve ser por isso que inventou-se Deus: como um antônimo para o nunca. Ou seria uma extensão do nunca? Pois diz-se que Deus sempre existiu e sempre existirá, mas ao mesmo tempo ele nunca deixará de existir. Inclusive deu-se a ele o poder sobre o fim com o que ele nos retorna dizendo que o fim de tudo estava em seus planos. Nossos planos.
Nossos medos maquiados. Nossas angústias escondidas por uma satisfação de que a responsabilidade já não é mais nossa.
Dói ter que aceitar o fim de algo que se achou que daria certo mas que em verdade nunca acontecerá.
Mantra matinal. Ao acordar dizer a si mesmo: "Aceitar o nunca". Mas não aceito. Ao acordar dizer a si mesmo: "Aceitar o fim". Aceito. Mas o verdadeiro fim nunca chega...