Eu sempre gostei de enciclopédias.
Quando eu era menino ganhei, da minha madrinha de batismo
católico, uma grande. Eram doze volumes em capa dura vermelha. E cada volume,
eu me lembro, era enorme e pesado, não sei se apenas diante da minha estatura
pequena e magra de então.
Ao contrário de outras enciclopédias que eu vi depois, esta
não era ordenada por ordem alfabética de verbetes. Continha artigos aleatórios
sobre os mais diversos assuntos, que podiam ser localizados através de um
grande índice incluído no último volume.
Eu tinha cerca de seis ou sete anos e estava começando a
aprender a ler e descobri a existência de enciclopédias numa revista da Turma
da Mônica. Sei que eles faziam algum tipo de referência que se você lesse uma
dessas você seria uma pessoa inteligente. A partir daí comentei com meus pais e
com alguns tios que meu “sonho” era ter uma, até o dia em que ganhei a coleção
citada anteriormente.
Decidi lê-la por inteiro. Do primeiro ao último volume. E
assim comecei minha jornada de conhecimento.
Lógico, muita coisa que eu lia não fazia o menor sentido pra
mim. Confesso que pulava artigos sobre química e matemática avançada, afinal
naquela idade eu mal resolvia equações com as quatro operações básicas.
Meus artigos preferidos eram os de biologia, onde descobri
bichos que nunca imaginei que existissem como os seres abissais dos oceanos ou
aves totalmente coloridas que viviam em outras partes do mundo.
Mundo este que foi ficando cada vez mais limitado com os
artigos de geografia que eu também gostava muito. Mas essa limitação se
desfazia nos artigos de astronomia que levavam minha imaginação pra muito além
da rua do pequeno bairro em que eu vivia. Enquanto o mundo diminuía, o universo
crescia. Cresceu junto meu contestamento religioso.
Descobri línguas, países, raças, histórias, artes. Tive a
companhia que me faltava entre os outros da minha idade. Pois as enciclopédias
não te ensinam a se relacionar com as pessoas.
Nem a se defender delas.
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