quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A droga da felicidade.

Para ler ouvindo:


Existe uma droga que nos é ministrada de forma lícita desde muito cedo na nossa vida. Inicialmente não pagamos por ela. Ela nos é dada de graça por aqueles que dizem que nos amam. Em nossa inocência infantil a experimentamos e logo no primeiro contato é que se contrai o vício. Geralmente isso acontece logo que chegamos ao colo materno depois de enfrentar meses de escuridão.

A felicidade é a droga que irá impulsionar todas as ações da nossa vida.

Ela é uma droga maligna pois vai se transformando junto com a gente: quando somos pequenos ela pode ser encontrada num sorvete, quando jovem numa aventura e quando mais velhos em muitas coisas diferentes que a própria procura por essa droga pode nos levar.

É difícil saber quando estamos a injetar uma dose dela. Ás vezes só percebemos depois que o efeito passou.

O seu efeito é de leveza. Entra-se num êxtase onde tudo a sua volta fica mais colorido, onde a vida parece merecer ser vivida. Até as pessoas melhoram durante esses momentos de alucinação. Mas esse efeito passa, e, pela sua qualidade de proporcionador de prazer, passa muito mais rápido do que esperávamos.

Começa logo em seguida a pior crise de abstinência que existe. Se anseia por voltar a sentir tudo aquilo novamente, ou mais, por mais tempo. Lembrar de um momento de felicidade faz você sentir dores no peito que você sabe que são psicológicas mas que a nossa cultura de homem desenvolvido socialmente fez com que elas ficassem agudas ali do lado esquerdo da parte superior do tórax. Outro sintoma da fase de abstinência são os sorrisos para o quarto vazio e ás vezes aquela lágrima solitária que brota em um dos olhos.

Então você parte para buscar mais. Mas nunca é o mesmo fornecedor. Nunca vem do mesmo lugar. Então nos embrenhamos numa jornada vitalícia em busca dessa sensação sem saber ao certo quando e onde vamos novamente encontrá-la. A vida é, no final das contas, anos e anos de peregrinação atrás de um sentimento que dura poucas horas.

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